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sábado, 16 de fevereiro de 2013

SÓ UM BOM CORAÇÃO AGUENTA A ANSIEDADE


Ansiedade todo mundo tem, é da vida, como aquela sensação de frio na barriga à espera do casamento, do nascimento de um filho, do dia do vestibular, do atraso para uma reunião importante. Vamos além, falemos aqui daquela angústia além da conta, que ultrapassa os limites e nunca se sabe quando e de onde virá.

Por exemplo: quando se está parado no trânsito e alguns metros à frente outros motoristas começam a ser assaltados num arrastão, com um cano de revólver nas têmporas. Haverá tiroteio, bala perdida? Chegarão a assaltá-lo também se o sinal não abrir a tempo de você arrancar em disparada? Prepare seu coração.

Esse trânsito maluco já oferece um variado cardápio de tormentos e não há como enfrentá-lo sem uma dose diária de estresse. Amplificado pela sensação de insegurança, o paulistano já sai assustado de casa e sabe que a paciência é curta. Aí, é fundamental deixar o coração em ótimo estado de conservação, sem nenhum comprometimento das artérias. O importante é que ele continue a bater mesmo diante de uma violenta emoção.

Portanto, nosso primeiro conselho é o do relaxamento. Antes de ligar o carro, conscientize-se de que os problemas de sempre vão se repetir. Melhor desarmar o espírito e partir assim para a guerra, com aquele mar de carros por todos os lados, sirenes estridentes, batidas, fechadas, xingamentos, motoqueiros como enxame de abelhas – esse mundinho nosso de cada dia.

Pois esse mundinho pode matar. Não é fácil preservar a boa saúde nesse dia-a-dia infernal sem os devidos cuidados médicos. Se uma pessoa calma já é submetida a uma tensão constante e perigosa, imagine então uma irritadiça ou aquela cujo cérebro está voltado apenas para a ganância? Alguns cuidados e informações são importantes na prevenção de doenças cardíacas:

-- não deixe que as inquietações diárias influam no sono. Aliás, a solicitação de remédio para dormir já é um mau sinal.

-- a pessoa que não relaxa terá uma repercussão no coração a longo prazo.

-- quando uma pessoa sofre um infarto fulminante, de duas, uma: ou desenvolveu uma obstrução da artéria rapidamente ou já tinha algum histórico, que não foi detectado. Uma obstrução de até 40% numa artéria pode não ser descoberta em exames normais como eletrocardiograma ou o teste ergométrico. São necessárias investigações mais sofisticadas, como a tomografia.

-- uma lesão de 40% pode evoluir muito rapidamente para 60% e provocar um infarto. Essa evolução é imprevisível.

-- a enxaqueca é um sintoma em homem e mulher e pode estar associada à ansiedade – nesse caso, mais um fator de risco. Portanto, procure um médico imediatamente.

Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia mostrou que 31% das mortes causadas por doenças não transmissíveis estão relacionadas a problemas cardiovasculares. Estão no topo, ultrapassando as mortes por câncer (16%), doenças respiratórias crônicas (5,8%) e diabetes (5%).

No Brasil, 300 mil pessoas morrem anualmente em razão de doenças cardiovasculares como infarto, acidente vascular encefálico, insuficiências cardíaca e renal ou morte súbita. São 820 mortes por dia, um número muito elevado.

Mas é possível reduzi-lo, desde que se cuide da prevenção e do controle dos fatores de risco como sedentarismo, hipertensão, consumo excessivo de sódio e gordura saturada, tabagismo, alcoolismo e colesterol elevado.

É preciso também uma mudança nos hábitos, especialmente das pessoas que compõem os grupos de risco.

A rotina de cada indivíduo é determinante no diagnóstico de doenças cardiovasculares. Por exemplo: se não possui um histórico genético, faz atividades físicas regulares, mantém uma dieta saudável e balanceada, evitando o consumo em excesso de sal, açúcar e gorduras, dificilmente vai desenvolver um problema cardiovascular.

O exercício físico é um grande aliado da saúde do coração e dos vasos, pois ajuda a controlar a pressão dos hipertensos crônicos, melhora os índices de glicemia e diminui os níveis de colesterol e triglicérides do sangue. Além de outros benefícios, como auxiliar na perda de peso, prevenção da osteoporose, melhora do humor e da autoestima.

Portanto, muita calma nesse trânsito, mesmo porque nada indica que ele vai melhorar – pelo contrário, só vai piorar com a quantidade de veículos novos que passam a trafegar por nossas ruas diariamente.

Relaxe, mantenha o bom humor e pé no freio.






(*) Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência
Portuguesa de São Paulo. 




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