Ansiedade todo
mundo tem, é da vida, como aquela sensação de frio na barriga à espera do
casamento, do nascimento de um filho, do dia do vestibular, do atraso para uma
reunião importante. Vamos além, falemos aqui daquela angústia além da conta, que
ultrapassa os limites e nunca se sabe quando e de onde virá.
Por exemplo:
quando se está parado no trânsito e alguns metros à frente outros motoristas
começam a ser assaltados num arrastão, com um cano de revólver nas têmporas.
Haverá tiroteio, bala perdida? Chegarão a assaltá-lo também se o sinal não abrir
a tempo de você arrancar em disparada? Prepare seu
coração.
Esse trânsito
maluco já oferece um variado cardápio de tormentos e não há como enfrentá-lo sem
uma dose diária de estresse. Amplificado pela sensação de insegurança, o
paulistano já sai assustado de casa e sabe que a paciência é curta. Aí, é
fundamental deixar o coração em ótimo estado de conservação, sem nenhum
comprometimento das artérias. O importante é que ele
continue a bater mesmo diante de uma violenta emoção.
Portanto, nosso primeiro conselho é o do relaxamento. Antes de ligar o
carro, conscientize-se de que os problemas de sempre vão se repetir. Melhor
desarmar o espírito e partir assim para a guerra, com aquele mar de carros por
todos os lados, sirenes estridentes, batidas, fechadas, xingamentos, motoqueiros
como enxame de abelhas – esse mundinho nosso de cada
dia.
Pois
esse mundinho pode matar. Não é fácil preservar a boa saúde nesse dia-a-dia
infernal sem os devidos cuidados médicos. Se uma pessoa calma já é submetida a
uma tensão constante e perigosa, imagine então uma irritadiça ou aquela cujo
cérebro está voltado apenas para a ganância? Alguns cuidados e informações são
importantes na prevenção de doenças cardíacas:
--
não deixe que as inquietações diárias influam no sono. Aliás, a solicitação de
remédio para dormir já é um mau sinal.
-- a
pessoa que não relaxa terá uma repercussão no coração a longo
prazo.
--
quando uma pessoa sofre um infarto fulminante, de duas, uma: ou desenvolveu uma
obstrução da artéria rapidamente ou já tinha algum histórico, que não foi
detectado. Uma obstrução de até 40% numa artéria pode não ser descoberta em
exames normais como eletrocardiograma ou o teste ergométrico. São necessárias
investigações mais sofisticadas, como a tomografia.
--
uma lesão de 40% pode evoluir muito rapidamente para 60% e provocar um infarto.
Essa evolução é imprevisível.
-- a
enxaqueca é um sintoma em homem e mulher e pode estar associada à ansiedade –
nesse caso, mais um fator de risco. Portanto, procure um médico imediatamente.
Um
estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia mostrou que 31% das
mortes causadas por doenças não transmissíveis estão relacionadas a problemas
cardiovasculares. Estão no topo, ultrapassando as mortes por câncer (16%),
doenças respiratórias crônicas (5,8%) e diabetes
(5%).
No
Brasil, 300 mil pessoas morrem anualmente em razão de doenças cardiovasculares
como infarto, acidente vascular encefálico, insuficiências cardíaca e renal ou
morte súbita. São 820 mortes por dia, um número muito elevado.
Mas
é possível reduzi-lo, desde que se cuide da prevenção e do controle dos fatores
de risco como sedentarismo, hipertensão, consumo excessivo de sódio e gordura
saturada, tabagismo, alcoolismo e colesterol elevado.
É preciso também uma mudança nos hábitos, especialmente das pessoas que compõem os grupos de risco.
A
rotina de cada indivíduo é determinante no diagnóstico de doenças
cardiovasculares. Por exemplo: se não possui um histórico genético, faz
atividades físicas regulares, mantém uma dieta saudável e balanceada, evitando o
consumo em excesso de sal, açúcar e gorduras, dificilmente vai desenvolver um
problema cardiovascular.
O
exercício físico é um grande aliado da saúde do coração e dos vasos, pois ajuda
a controlar a pressão dos hipertensos crônicos, melhora os índices de glicemia e
diminui os níveis de colesterol e triglicérides do sangue. Além de outros
benefícios, como auxiliar na perda de peso, prevenção da osteoporose, melhora do
humor e da autoestima.
Portanto, muita calma nesse trânsito, mesmo porque nada indica que ele
vai melhorar – pelo contrário, só vai piorar com a quantidade de veículos novos
que passam a trafegar por nossas ruas diariamente.
Relaxe, mantenha o bom humor e pé no freio.
(*) Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência
Portuguesa
de São Paulo.
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